"TODOS OS QUE COMETEM VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS NAS SUAS MAIS VARIADAS FORMAS:
- MAUS TRATOS; ABUSOS SEXUAIS; ALIENAÇÃO PARENTAL... SÃO CRIMINOSOS."

terça-feira, 31 de julho de 2012

LUZES DA RIBALTA

Vidas que se acabam a sorrir
Luzes que se apagam, nada mais
É sonhar em vão tentar aos outros iludir
Se o que se foi pra nós
Não voltará jamais
Para que chorar o que passou
Lamentar perdidas ilusões
Se o ideal que sempre nos acalentou
Renascerá em outros corações

          

domingo, 29 de julho de 2012

ESPERANÇA

Se quiseres partir amanhã
eu páro o mundo
com facilidade assim
com esta mão
e então descobriremos
o mais profundo fundo que há no mundo
que é no irmos fundo às coisas
que há razão


de verdades consumadas me consomem
de falácias bem montadas me alimentam
mas meu filho, mora o reino do futuro
que é mais duro
e não vai ser com palavras
que o contentam


Se a morte lenta te rebenta sob a pele
a cada dia
e se no teu braço apenas sentes é a força
de um cansaço organizado
mas manténs na tua fronte a dúvida
e o gosto pelo longe e a maresia
e se sentes no teu peito de criança
a alma de um sonho amordaçado


se quiseres partir amanhã
eu páro o mundo
com facilidade assim
com esta mão
e então descobriremos o mais profundo
fundo que há no mundo
que é no irmos fundo às coisas que há razão


Iste mundus furibundus falsa prestat gaudia,
quia fluunt et decurrunt ceu campi lilia.
Laus mundana, vita vana vera tollit premia,
nam impellit et submergit animas in tartara.

[Este mundo furibundo nos dá falsas alegrias,
que fluem e se dissipam como pelos campos os lírios.
Louvores mundanos, vida vã afastam-nos dos veros prémios,
para impelir e submergir nossas almas no tártaro.]
 

            

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nunca Desistirei de Ti, Filhote, NUNCA!!!

Apenas permaneço em silêncio na esperança de que as mentes perturbadas tenham a noção do que te estão fazendo. 
Te AMO meu querido, muito.



            

domingo, 15 de julho de 2012

Joga Todo o Teu Ser na Breve Ideia

Joga todo o teu ser na breve ideia
que incerta entre o corrente te procura
... pra lá do que banal te prende e enleia
e pelo destacá-la emerge pura.

Fazê-lo é dar-lhe já o que perdura.
Porque a banalidade que a medeia
como à pedra vulgar por entre a areia
esquece o que em tomá-la a rareia.

Ser homem é escolher o que o oriente
e ser-lhe o mais a margem que lhe mente.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'



                                                     Pintura de Steve Hanks

Saudades

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima correctamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

 Clarice Lispector


sábado, 14 de julho de 2012

Quem escreverá a história do que poderia ter sido o irreparável do meu passado....


Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insónia, substância natural de todas as minhas noites, Relembro, velando em modorra incómoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver...

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.

O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei.
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos.
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p’ra mim.

Álvaro de Campos

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A necessitar de Psicanálise

Naquele dia o entusiasmo saltava-lhe no olhar, o tal curso ao abrigo das Novas Oportunidades tinha-lhe permitido conhecer a obra de Sigmund Freud. Quando expressou o nome do génio pronunciou-o como 'Freud' e corrigi, não é 'Freud' é 'Fróid'. De olhar desconfiado (como já era normal), disse:
-Mas está escrito com um 'E' e um 'U'; Sim, disse eu, mas pronuncia-se 'Fróid'. Aumentando a desconfiança em relação à minha observação e já demonstrando uma ligeira irritação questiona-me:

-Mas tu sabes quem foi Sigmund Freud?
-Sei alguma coisa e já li algo sobre o 'pai' da Psicanálise.
-Ah! Tu sabes muita coisa. Amanhã vou confirmar essa tua sabedoria.
-Mas porque estás tão irritada?
-Não, não estou irritada, estou apenas surpreendida por saberes tanto.
-Sei que nada sei, mas tenho algures aí na estante (objecto cujo ódio visceral ela aumentava em proporção ao volume de livros), um ou dois livros sobre Sigmund Freud e dois ou três do Prof. Carlos Amaral Dias, grande especialista em Freud e um grande comunicador que estimo e admiro. E mostrei-lhe os objectos de culto. Quando se apercebeu de que eu estava a falar verdade e já numa mistura de 'Irritação' 'Raiva' e 'Desespero' argumenta:
-Sabes, eu não estou irritada, o que me 'chateia' é essa tua maneira de falares comigo.
-Maneira! Como assim?
- Esse teu 'ar' de 'intelectual', essa tua 'arrogância', tens a mania que sabes tudo...

Aqui, uma vez mais, já lhe tinha virado as costas e caminhando na direcção oposta, a nossa vida não passava disto. A tristeza me consumia e um imenso vazio aos poucos me queimava por dentro. Agora que relembro estas cenas patéticas vem-me à memória aquelas viagens de automóvel cuja duração rondava a hora e meia e que quando coincidiam com alguns programas de rádio do meu agrado, quer fossem de Jazz ou de Clássica apenas me era permitido escutar uns meros dois ou três minutos, volvido esse tempo, uma voz se sobrepunha aos acordes radiofónicos e se fazia ouvir.
-Fernando, que seca. Vamos ouvir isso até casa?
Às vezes, a 'voz' surgia em duplicado quando no banco traseiro da viatura um outro passageiro partilhava a crítica. De nada serviam os meus argumentos, em democracia a maioria prevalece e lá se iam "Cinco Minutos de Jazz" ou uma 'partitura' qualquer que estava ali a mais. O que me fazia alguma confusão (ou talvez não), era, decorridas poucas horas a mesma criatura que me reduzia ao silêncio no automóvel,fazia um 'Like' no 'Livro dos Rostos' quando uma outra 'criatura' sua 'amiga' 'postava' um tema de Jazz ou de Clássica e a acompanhar o Like fazia um 'Comment':
- "Ah! Asdrubel, quando escutei esta noite Bach, toda eu estremeci (ou arrepiei, não me recordo agora) e as lágrimas caíram-me pelo rosto."
Claro que de imediato dei conta que eu necessitava urgentemente de Psicanálise. E vieram-me à mente algumas observações de Freud:

e trago à minha debilitada memória aquela velha canção do Rui:                                                          
                                                  

Nunca vi aquela Alma acercar-se da Estante 'maldita', onde habitavam os livros que fizeram aquilo que hoje sou (talvez por isso mesmo, quem sabe!) e pegar um livro e desfolhá-lo. Ou pegar num dos vários CD's de Jazz ou de Música Clássica e colocá-lo para o escutar. No entanto nos lugares da Net onde todo o mundo se mascara tornou-se especialista em ambos os géneros, opinando, criticando e elogiando temas que nunca escutou na vida. Claro que tudo isto não é natural ou à 'besta' que sou, não me é permitido entender como o Mundo rola. E assim, essa ignorância me corrói lentamente porque sei que nada sei.